Todo o treino canino devia ser obrigatório?
Que tipo de adestramento e treino canino deve ser obrigatório?
Quando se propõe que o treino canino seja obrigatório ou se enumeram razões que fundamentam o ser obrigatório, não se está a falar em adestrar ou treinar o cão a fazer truques, nem a falar em adestrar ou treinar um cão de desporto ou de trabalho. Quando se propõe que o treino canino seja obrigatório fala-se de Obediência. Objectiva-se a Educação.
Sempre que um cão tiver algum tipo de patologia comportamental deveria ser também obrigatório recorrer a um Adestrador. Acima de tudo para se investir no tratamento da patologia comportamental, não só permitindo o cão ter uma vida melhor, como prevenindo possíveis incidentes.
Que comandos caninos devem ser obrigatórios?
Os comandos base oferecidos nos nossos serviços de “Obediência Social” e de “Obediência à Trela” são os comandos de obediência que, após o adestramento e treino com fiabilidade (o cão obedece em qualquer situação ou local), se traduzem em educação. Um cão educado é um cão que sabe andar à trela ou fazer um junto com foco no condutor, que sabe sentar, deitar e ficar em ambas as situações, que sabe vir à chamada (aqui) e que sabe largar um objecto que tenha na boca à ordem.
Assim sendo, diria que em termos de comandos propriamente ditos, aqueles que devem ser obrigatórios são o junto, o senta, o deita, o quieto, o aqui e o larga.
Há comandos facultativos que possam ajudar na educação do meu cão?
Claro que sim! Para além dos comandos de obediência, para considerarmos um cão educado, é preciso também que saiba eliminar (urinar e defecar) no local adequado. Podemos adicionar os comandos para que o cão elimine à ordem (urinar e defecar à ordem do dono).
Ter também introdução positiva à caixa transportadora, mesmo não sendo parte integrante da obediência e/ou educação básica do cão, pode ajudar muito a manter o cão calmo, tranquilo, feliz e em segurança. Além do cão ter um local que considera a sua toca e onde, consequentemente, se sente sempre seguro e calmo, o cão terá um comando para entrar na toca à ordem, dando maior liberdade ao seu dono/tutor.
Por último, além de comandos de educação, o cão deve ter uma estrutura de regras claras (ex: saber que não pode subir na cama ou sofá; saber que não pode passar a porta de saída sem a ordem do dono/tutor; entre outros;).
Agora que já foi definido qual o tipo de treino e quais os comandos que devem ser obrigatórios, analisar-se-ão as várias razões que tornam imperativo o treino, partindo do principio que o cão é equilibrado e não tem nenhuma patologia comportamental.
1 – Segurança
Imputabilidade
A primeira razão é uma das mais importantes, a segurança. Segurança de quem? Segurança do cão, segurança dos outros cães e dos outros animais à volta, segurança de seres humanos adultos e de crianças também. Por vezes um cão ataca outro cão, outro animal, adultos ou crianças humanas. A culpa é do cão?
Claro que não! Não podemos nem devemos imputar culpa nem responsabilidade num cão. Um cão não consegue discernir o certo do errado nem consegue relacionar conceitos. Um cão tem uma inteligência associativa, pelo que, o seu comportamento se rege acima de tudo pela genética e pelas experiências que já passou (às quais associa uma conotação negativa ou positiva).
Não devemos humanizar os cães
Um cão é um cão! Podemos e devemos amar os cães como membros da família, mas não devemos em momento algum esquecer que são cães e humanizá-los. Os cães têm instintos que podem ser despoletados por objectos rápidos ou mesmo pessoas em movimento a passarem perto deles, instintos que podem ser desencadeados por crianças com movimentos erráticos, instintos que podem ser desencadeados por medo, ou por enumeras outras razões. Muitas vezes a resposta do cão (esteja ele treinado ou não) pode ser atacar, seja por instinto de presa, instinto de sobrevivência, medo ou por várias outras razões instintivas ou patológicas.
O impacto do treino canino nas reacções do seu cão
Ainda que para um cão treinado seja mais improvável reagir sem autorização/consentimento do dono/tutor (estando, através do treino, o dono numa posição hierárquica superior), tal circunstância não deixa de ser possível de acontecer. No entanto, num cão adestrado e treinado com fiabilidade, será possível não só o dono/tutor prevenir/antecipar o despoletar do comportamento indesejado, com um comando, como também redirecionar o cão após o facto e obrigá-lo a voltar até ao dono/tutor através do controlo verbal adquirido durante o adestramento e treino.
Deste modo podemos manter o nosso cão, os animais e as pessoas à nossa volta seguras, através do adestramento do nosso cão!
2 – Saúde
A segunda razão porque o adestramento e treino em obediência deveria ser obrigatório é a saúde do cão. Já foi mencionada a segurança em relação a possíveis incidentes físicos entre cães ou entre cães e pessoas, agora falamos da saúde em si mesma.
Patologias Comportamentais
O adestramento e treino em obediência, é muitas vezes uma ferramenta forte para redirecionar um cão com uma patologia comportamental. Em muitos casos o adestramento e treino da obediência em si, e o seu subsequente aumento de ligação e de confiança com e no dono, faz parte do tratamento em si.
Se aparecer uma patologia comportamental num cão que já tenha adestramento e treino em obediência, o tratamento será mais fácil.
Por outro lado, muitos criadores não têm a responsabilidade (e estão mais preocupados em vender) de fazer a seleção de donos ideais para os cães que têm à venda. A verdade é que muitas pessoas não têm o perfil nem o tempo para terem determinadas raças, ou mesmo cães num geral. E mesmo os que têm muitas vezes não têm o conhecimento necessário. O que leva a cães cujas necessidades físicas e mentais não são estimuladas o suficiente, ou mesmo o uso de métodos de ensino desproporcionais àquilo que o seu cão precisa, podendo estas razões levar ao aparecimento de patologias comportamentais.
Comando preventivo ou reactivo
Um cão adestrado e treinado com fiabilidade responde ao controlo verbal do dono. Desta forma podemos controlar o cão mais facilmente, evitando que este vá para sítios nos quais se possa magoar, podemos evitar que este ingira comida caída na rua, objectos inadequados para ingestão ou mesmo plantas (que por vezes contêm produtos químicos e que são prejudiciais). O dono/tutor pode usar um comando para prevenir que algo aconteça (ex: não deixar que vá para uma zona com vidros; afastar-se de algo perigoso que já sabe que à partida o cão vai querer interagir com) ou para reagir após o cão já ter feito algo que o põe em risco (ex: para voltar para perto do dono; para largar algo que tenha na boca).
Eliminar à ordem
Quando o nosso cão sabe eliminar à ordem, podemos prevenir que fique com urina ou fezes alojadas no corpo num dia em que o dono/tutor tenha menos tempo. O dono pode num dia excecional, fazer passeios mais curtos pedindo ao cão para eliminar á ordem.
Por outro lado, um cão que esteja habituado a eliminar à ordem, se ao fim de 1 ou 2 passeios, 2 ou 3 tentativas de eliminar à ordem o não fizer, o dono/tutor deve discernir que algo não está bem e que será adequado procurar um veterinário o mais rapidamente possível. Desta forma é possível identificar um problema com maior antecedência.
Caixa Transportadora
Além da caixa transportadora contribuir bastante para a saúde mental do cão (local onde o cão pode estar seguro, calmo e entretido, é também usada para tratar da ansiedade por separação), o que contribui bastante para a sua segurança física, não permitindo nunca que o cão coma algo que lhe faz mal quando o dono/tutor não está em casa.
3 – Felicidade
Qualquer Raça
Para adestrar e treinar um cão com fiabilidade é preciso dedicar e investir tempo diariamente e interagir e recompensar constantemente o cão. Um cão que interage constantemente com o dono acaba por criar uma ligação maior com o dono/tutor. Quando o cão tem uma ligação forte com o dono, o agradar o dono/tutor é uma recompensa em si. Isto torna-se um ciclo repetitivo e contínuo. O cão aprende e obedece mais facilmente porque quer agradar o dono e isso fá-lo feliz, e vice-versa, como o faz feliz interagir e ser recompensado pelo dono, dedica-se mais a aprender e a obedecer.
Raças de Trabalho
Embora hoje em dia as raças caninas, na sua maior parte, estarem a ser cada vez mais desvalorizadas (ninhadas e cruzamentos feitos por pessoas sem conhecimento, sem cuidado e em busca de dinheiro fácil, ou por pessoas que procuram acima de tudo a beleza morfológica nos cães) muitas das raças foram desenvolvidas e valorizadas (através de seleção de caráter, de morfologia e de função) com uma missão/função. Falamos de raças como o Jack Russel (controlo de pragas), ou como o Pastor Alemão Linha de Trabalho e o Pastor Belga Malinois (originalmente cães de pastoreio, que vêm a ser valorizados para guarda e protecção, função policial/militar, detecção de odores, busca e salvamento) são raças cujos indivíduos não serão nunca felizes se não tiverem uma missão. Não serão nunca felizes se as suas capacidades e necessidades fisicas e cognitivas não forem estimuladas e exercitadas ao mais alto nível. Para além destas raças há muitas outras que foram desenvolvidas para trabalhos funcionais, pelo que têm elevados níveis de inteligência e de energia, que têm de ser estimulados para serem felizes e saudáveis (Retrievers ou Pointers por exemplo).
No primeiro parágrafo de Raças de Trabalho falámos de criação de ninhadas mal feitas. Este tipo de criadores não qualificados desvalorizam tudo nas raças, inclusive o carácter dos cães. Cada vez mais nascem cães que têm medo de tudo, inclusive da própria sombra (seja por terem medo genético, seja por falta de socialização e de inprintings por parte de um criador responsável). Neste tipo de cães é um imperativo realizar-se não apenas o contra-condicionamento e a dessensibilização dos estímulos que lhe provocam medo, para tentar melhorar a confiança e a vida do cão, mas também que o dono se dedique a adestrar e treinar o cão para que o cão crie maior ligação e confiança com o dono, para poder ser mais feliz.
Um cão treinado é sempre um cão muito mais feliz do que um não treinado (a menos que sejam usados métodos desproporcionais ao que o cão precisa)!
4 – Liberdade
A última razão considerada como incontornável para o adestramento e treino canino é a Liberdade. A liberdade dos donos/tutores. Quem é que não tem aquele amigo que diz: “não posso ir, tenho os cães”? Eu tenho.
Os cães tornam-se na cabeça das pessoas um estorvo e uma obrigação. Os cães deveriam ser uma obrigação e uma responsabilidade sim, mas por os amarmos e por os desejarmos bem, por querermos o melhor para eles. Quem se dedique ao seu cão tanto quanto ele merece, ganhará a liberdade para levar o seu cão consigo para quase qualquer sítio, sem preocupações ou problemas. Um cão educado, com os comandos de obediência, com eliminação à ordem e com introdução positiva à transportadora, só não vai onde o dono não quiser que vá ou onde não for ainda permitida a entrada a animais.
Começam a aparecer no mundo todo e também já em Portugal hotéis e restaurantes onde são permitidos animais. Porquê deixar de fazer o que gosta ou deixar de fazer o que gosta com quem mais gosta? Porquê fazê-lo preocupado se o cão está bem? Porquê levar o cão e estar constantemente preocupado se o cão vai estragar alguma coisa e/ou magoar-se?
Conclusão
Resumindo, um cão adestrado e treinado com fiabilidade, tem menor probabilidade de magoar outro animal ou pessoa, tem menor probabilidade de ser magoado por outro animal, tem menor probabilidade de ingerir algo que lhe faz mal ou de ir para locais nos quais se possa magoar. É também mais obediente, mais feliz e pode ir para qualquer lado com o dono, devido ao controlo verbal adquirido durante o treino e adestramento do cão!
Ter um cão sem o adestrar e treinar com um profissional certificado é o mesmo que conduzir sem carta de condução.
A Cãomaradagem incentiva todos os donos de cães a treinarem os seus cães na obediência, connosco, num dos nossos serviços de “Obediência Social” ou “Obediência à Trela” ou recorrendo a outros profissionais certificados e de renome. Para qualquer cliente que não seja da nossa área de actuação (Área Metropolitana de Lisboa), e precise de acompanhamento profissional, a Cãomaradagem tem todo o gosto em sugerir alguns profissionais da vossa área de residência.
